Doença de Peyronie. O que é e Porque Aparece.
A Doença de Peyronie é caracterizada pela fibrose superficial em forma de placas que causam uma deformidade no pênis, que pode ser ou não ser acompanhada de dor. Em geral o problema surge com maior frequência na 60a década de vida com impacto na função sexual associado a estresse psicológico nos pacientes e em suas parceiras. Antigamente considerada uma condição rara, atualmente a Doença de Peyronie possui prevalência relatada superior a 13% dos homens adultos em alguns países do mundo.
Consequências da Doença de Peyronie (DP)
Além dos sintomas físicos, que limitam a atividade sexual, a DP pode causar significante estresse psicossocial nos homens e suas parceiras com sentimentos fortes de culpa, vergonha e recolhimento presentes em até 80% dos casos. Esses sentimentos podem persistir com a progressão da doença e nesse momento 48% dos pacientes podem relatar sintomas de depressão.
Apenas recentemente o impacto psicossocial da DP foi validada em estudos científicos, antes disso essas condições associadas eram desconhecidas ou apenas intuídas pelos urologistas especializados em Peyronie.
Porque a DP surge? O que posso atuar para melhorar?
O que sabemos é que sua etiologia é multifatorial e não completamente conhecida. A teoria mais conhecida relaciona trauma dos corpos cavernosos à doença. Assim, lesões penianas agudas e intensas ou microtraumas repetidos durante a relação sexual poderiam desencadear a DP.
Trauma agudo ou microtraumas |
Trauma após procedimentos urológicos – cistoscopias, cirurgias da próstata |
Histórico de uretrites (gonorreia) |
Histórico de Doenças Inflamatórias ou Doenças Inflamatórias Pélvicas da Parceira |
Tabagismo |
Hipogonadismo (baixos níveis de testosterona) |
Doenças Auto-Imunes |
Doenças Cardiovasculares (?) Diabetes(?) |
Alcoolismo |
Doença de Ledderhose – Doença do Tecido Conjuntivo (nos pés) e de Duputyren |
Os riscos modificáveis da DP incluem os cuidados pessoais em relação às doenças sexualmente transmissíveis, à necessidade de sondagem vesical ou não, à aceitação de procedimentos como a ressecção transuretral da próstata. A prostatectomia radical (para tratamento do Câncer de Próstata), também está associada a aumento do risco para a Doença de Peyronie, com 15% de incidência observada após essa cirurgia.
O tabagismo também está implicado na etiologia dessa condição, mas não está claro ainda se há relação com a quantidade de cigarros utilizados. O mesmo risco está relatado quando as parceiras possuem doenças inflamatórias pélvicas.
O hipogonadismo (baixa de testosterona) também é um possível fator de risco para a DP. Um estudo recente sugere alta prevalência (74%) de Hipogonadismo em homens com DP além de curvaturas mais intensas. Uma possível explicação é o fato da testosterona e dos andrógenos adrenais modularem a matriz de mataloproteinases, que são importantes para o processo de cicatrização.
Além disso, a Disfunção Erétil é observada em 32% dos homens com Doença de Peyronie. Ainda não está claro, contudo, se os problemas de ereção surgem antes ou concomitantemente à DP.
Existem também fatores genéticos envolvidos e inúmeros estudo científicos tem conseguido mostrar essa correlação. Um exemplo prático sobre isso, evitando-se muitos dados técnicos, pode ser descrito com a Doença de Duputyren, uma alteração inflamatória fibrótica que ocorre na palma da mão e que ocorre em associação com a Doença de Peyronie em até 21% dos pacientes. Se separarmos os pacientes com herança genética autossômica dominante para a Doença de Duputyren, a associação com DP chega a 78%. Do mesmo modo, histórico familiar de DP aumenta o risco dos familiares de 1o grau.
Como a Doença de Peyronie surge e como Evolui?
Apesar de sua descrição ter sido feita há mais de 250 anos, somente recentemente sua história natural foi estudada em detalhe.
Um dos primeiros grupos que estudaram a DP relataram na década de 70 resolução espontânea em 50% dos pacientes. Essa alta taxa de resolução, contudo, não foi confirmada em estudo maiores e mais recentes. Atualmente é relatado 13% de resolução espontânea, 47% de estabilização e 40% de piora do quadro ao longo do tempo. Quanto mais jovem o paciente, maior a taxa de resolução espontânea.
Apesar da Doença de Peyronie ser mais frequente em homens com cerca de 60 anos, há casos relatados em jovens com até 21 anos.
Em pacientes mais jovens é preciso diferencias a DP das curvaturas congênitas, que não possuem placa nos corpos cavernosos. Nas curvaturas congênitas, a curvatura ventral predomina, ao passo que na DP, as curvaturas dorsais e laterais são a regra.
A história natural da Doença de Peyronie é dividida nas fases Aguda e Crônica. A fase aguda é caracterizada pela progressão da deformidade peniana e frequentemente se associa a dor durante as ereções ou durante a fase flácida. A fase aguda dura entre 6 e 18 meses. Em contraste, a fase crônica é definida pela estabilidade da deformidade peniana por um período mínimo de 3 meses, nesse momento a dor melhora muito ou desapareceu.
A perda subjetiva de comprimento peniano é relatado em 84% dos pacientes na fase crônica.
Como é feita a avaliação da Doença de Peyronie?
Tudo começa com uma história detalhada seguida do exame físico dos pacientes. O momento exato do início dos sintomas, incluindo história de potenciais fatores desencadeantes ou de risco devem ser investigados.
Como a DP pode interferir negativamente na estabilidade psicossocial e nos relacionamentos, também é importante colher informações com respeito ao humor e o status dos relacionamentos pessoais e sociais.
O exame físico deve ser feito durante a fase flácida e, se possível (ereção fármaco-induzida), também durante a fase ereta, quando a curvatura pode ser objetivamente avaliada.
A ultrassonografia dos corpos cavernosos após ereção fármaco-induzida é preferida para a determinação do tamanho da placa, sua calcificação e grau de deformidade em relação à fotografias ou ereções induzidas por bombas à vácuo.
Exames laboratoriais não desnecessários para avaliação da doença em si, mas se considerarmos os possíveis fatores de risco como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças auto-imunes e hipogonadismo, alguns estudos devem ser solicitados para orientação do tratamento e prevenção de novas placas.
Outros estudos de imagem (exceto pelo doppler cavernoso) ou laboratoriais são extremamente controversos e não impactam no processo de diagnóstico da Doença de Peyronie.
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Dr. Cesar Camara
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